O trem da economia descarrilou na metade do segundo governo Lula
por Hubert Alquéres
O governo Dilma Rousseff faz cortes violentos no orçamento, desmonta programas sociais como o Fies e despreza promessas de campanha. A maior empresa do país, a Petrobras, passa pela crise mais aguda desde que nasceu em 3 de outubro de 1953 e, em efeito cascata, vai quebrar diversas empresas. A inflação foge do controle, o dólar explode e a política de juros castiga o país. A economia encolhe e os empresarios demitem.
Ainda assim, a presidente insiste em afirmar que a “crise é passageira”, produto da conjuntura internacional, a qual ela responsabiliza por toda a desorganização em que o país está metido.
Mais um discurso maniqueísta, que mostra Dilma como sempre obstinada em dividir a nação entre “bons” e “maus” brasileiros, esses últimos uma “minoria que torce para o Brasil não dar certo”. Repisa-se o conceito do “Brasil, ame-o ou deixe-o” que nunca pegou bem na época da ditadura, quanto mais no Estado de Direito de hoje.
Esta é uma crise tipo chuvas de verão, que passam logo, como nos quer fazer crer a presidente?
É óbvio que não.
Reeleito senador, José Serra (PSDB) destrinchou a questão no seu discurso de estreia no plenário, apontando como e quando a economia brasileira saiu dos trilhos.
A crise econômica não é de curta duração, não se vislumbra o fim do túnel. É de profunda dimensão. Talvez a maior dos últimos 50 anos. A realidade pode chocar, mas a verdade tem que ser dita. Sem reconhecê-la, não se irá a lugar algum.
O senador nos dá um dado impressionante: entre 2003 e 2008, “Lula teve US$ 100 bilhões a mais por conta da melhora das relações de troca (internacional) da economia.”
No início do governo Lula todos os astros conspiravam a seu favor. O preço das commodities foi para a estratosfera. Havia excesso de liquidez no mercado internacional. Não era necessário aumentar juros para atrair capitais.
Mas Lula preferiu esse caminho, a ponto de uma ministra de seu governo, Dilma Rousseff, chamar de “rudimentar” o ajuste promovido pela dupla Palocci-Henrique Meireles e de “enxugar gelo” a política de elevação de juros.
O governo Lula fez o papel da cigarra. Não se preparou para a crise, para a virada da maré como acontece em todo ciclo. Mais grave, não investiu em infraestrutura, não poupou, não enxugou os gastos correntes da máquina federal. Gastou mais e mais.
Quando a crise expôs a sua cara, o governo petista foi na contramão do mundo.
Os países desenvolvidos baixaram juros, alguns até praticando juros negativos, mas o Brasil os manteve intocáveis por meses. Haja apego à ortodoxia!
Diante da crise internacional substituiu-se os bons fundamentos da responsabilidade fiscal e superávit primário pelo estímulo ao consumo, expansionismo fiscal e sobrevalorização do real.
E também pelo intervencionismo do Estado, com uma política de desoneração e de subsídios voltadas para grupos vencedores, os chamados amigos do rei.
Para selar o desastre, em seu primeiro mandato Dilma adotou o populismo tarifário, fator desorganizador do setor elétrico e da própria cadeia produtiva do petróleo.
O trem da economia descarrilou na metade do segundo governo Lula.
Para colocá-lo na linha não basta um ajuste fiscal que, como um elixir miraculoso, salvará o paciente rapidinho, rapidinho. É necessário construir um novo modelo, capaz de destravar os investimentos em infraestrutura e dar competitividade à indústria.
Sem isso, ajustes fiscais e elevação de juros não passarão de tentativas de enxugar gelo, para utilizar a expressão de Dilma, de dez anos atrás.
http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/03/enxugar-gelo-nao-estanca-crise.html
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